Sobre o autor

Paulo Becknetter, o Beck, é jornalista. Nos últimos anos, desempenhou a função de colunista de atualidades nos jornais “BOM DIA Rio Preto” (2007 a 2013) e “Diário da Região” (2013/14). Agora, oficialmente na web, o Blog do Beck afina sua vocação para a comunicação diária, alinhando informação digital e bom humor na medida ideal. Para mais posts, siga também @BlogDoBeck no Instagram.

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#MEMÓRIAS: Hoje eu acordei assim, cheio de saudades da ‘Dona Leny’, do ‘Seu Zé’ e da casinha onde nasci…

Atualizado em 10 de maio de 2020, 14:11h

Imagem ilustrativa: busquei no Google alguma casa que me lembrava aquela onde vivi minha infância, no Sítio ‘dos Ribeiro’, em Santa Adélia…

Eu nasci numa casinha assim, talvez até mais simples do que a da foto acima… Era toda branca e tinha janelas e portas azuis. De ‘chão batido’, possuía pequenos ‘rasgos’ na parede e telhas frágeis. Na frente, um pequeno jardim que dava pra uma rua de areia fofa. Um pouco mais adiante, um campo de futebol. Depois dele, a linha do trem, o cafezal e o mundo – este mesmo que eu nem sonhava ser tão grande.

 

Para mim, imenso mesmo era o céu que me cobria todo estrelado, nas noites de lua clara, quando me deitava com meu pai na grama em frente da casinha. Não era um programa comum. Era muito raro quando me deitava ao lado do ‘Seu Zé”. Em uma dessas noites que povoam minha memória, estávamos eu e ele ali, ‘largados’ naquela grama fresca, cobertos por um dos céus mais lindos que já vi na vida.

 

De repente, eis que uma aeronave sobrevoa o céu e eu pergunto o que é aquilo. Ele responde: “É um avião, serve pra levar a gente pro mundo”. Uns 20 anos depois dessa ‘rara’ conversa com meu pai eu subi em um avião pela primeira vez. Óbvio que cometi pencas de gafes. Mas esse não é o foco da conversa.

 

Voltemos à casinha singela que me fez acordar cheio de saudades nesta quarta (16): a minha casinha no sítio perto de Santa Adélia, na fazenda ‘dos Ribeiro”. Ah, como também era linda a casa dos donos da fazenda. Como eu adorava fuçar no lixo deles e encontrar aqueles vidrinhos de comida de bebê, sabe? Aqueles de papinha. Achava o máximo levá-los pra casa e brincar. É claro que também amava brincar no pomar da ‘casa grande’, que tinha muitos pés de jabuticaba e uma piscina ‘imensa’ para o tamanho dos meus olhos na época.

 

Mas nada se comparava à minha casinha de ‘chão batido’, ao cheiro do pão que minha mãe fazia, do leite com pedaços de polenta, do quadro de Santa Luzia na parede (sim, eu já tinha problemas nos olhos desde cedo e minha mãe amada contava com o auxílio de ‘Dona Santa Luzia’ para me ajudar). Também me recordo docemente de um quadro contendo um “Anjo da Guarda” cuidando de duas crianças à beira de um rio. Encontrei uma imagem igual na internet e carrego comigo através do celular até hoje.

 

Do quarto simples, que precisava ser coberto com plástico nas noites que chovia forte, eu corria pro quintal, onde tinha uma ‘tina de lavar roupas’ e um disputadíssimo pé de tamarindo. Foi nessa tina, uma vez, que uma aranha picou mamãe. E a coisa foi feia. Lembro-me da gritaria, da dor que ela sentiu e de ela sendo levada para o hospital em Santa Adélia.

 

Mas ela voltou… Ah, que alívio vê-la entrando novamente, forte como sempre… Porque Dona Leny, meus amigos, não era mulher de cair com qualquer picadinha de aranha, não! Pensa numa guerreira da roça, que me carregava pro cafezal e me acomodava embaixo de um dos pés de café enquanto ela colhia sacos e sacos durante o dia todo. Na verdade, não me lembro muito dessa época. Tenho apenas ‘lampejos’ e uma saudade doída…

 

Mas um dia, muito tempo depois, quando eu já vivia em Rio Preto e fui visitá-la em Santa Adélia, ela me contou que em uma dessas tardes, enquanto eu ficava dormindo embaixo dos pés de café, uma cobra se aproximou e começou a mamar o leite da minha mamadeira. “Quase morri, Pim”, disse-me ela, com os olhos cheios de água, chamando-me pelo apelido de infância. “Grudei você nos braços, mas a cobra permaneceu lá. Não fez nada. Saí com você correndo”.

 

Esta conversa eu tive pouco antes de mamãe desencarnar, em abril de 2016, um dia após o seu aniversário de 75 anos. E hoje, três anos depois, essa casinha ‘me acordou’ e trouxe todas essas lembranças à tona. Lembranças tão doces, saudades imensas que transformo em texto para represar as lágrimas. Não consegui. Deixo o choro me lavar…

 

(Texto originalmente escrito em 19 de janeiro de 2019).

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2 Comentários

  • Responder
    Maurício Bicudo
    29 de janeiro de 2019, 17:53h às 17:53

    O simples é tudo! Parabéns meu amigo por guardar no coração tão bons exemplos como os seus pais ensinaram! Orgulho de vc e siga, pois o mundo ainda precisa muito dos seus textos!

    • Responder
      Blog do Beck
      30 de janeiro de 2019, 08:54h às 08:54

      Obrigado, amigo querido!

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Paulo Becknetter, o Beck, é jornalista. Nos últimos anos, desempenhou a função de colunista de atualidades nos jornais "BOM DIA Rio Preto" (2007 a 2013) e "Diário da Região" (2013/14). Agora, oficialmente na web, o Blog do Beck afina sua vocação para a comunicação diária, alinhando informação digital e bom humor na medida ideal. Nas horas de faxina, tratar dos mesmos assuntos com Berenice Du Lar, a interina e eterna Garota da Laje de Ipanema. Aceita, brazeeel!

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