Sobre o autor

Paulo Becknetter, o Beck, é jornalista. Nos últimos anos, desempenhou a função de colunista de atualidades nos jornais “BOM DIA Rio Preto” (2007 a 2013) e “Diário da Região” (2013/14). Agora, oficialmente na web, o Blog do Beck afina sua vocação para a comunicação diária, alinhando informação digital e bom humor na medida ideal. Para mais posts, siga também @BlogDoBeck no Instagram.

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Em defesa de réu no júri da Boate Kiss, advogada cita carta psicografada por médium de Uberaba. Vem ler a íntegra…

Atualizado em 10 de dezembro de 2021, 17:40h

Advogada Juliana Borsa mostra livro onde mensagem psicografada foi publicada (Foto/Reprodução: Tribunal de Justiça do RS).

O julgamento do caso da Boate Kiss, que acontece no plenário do Foro Central I, em Porto Alegre (RS), após oito anos e 11 meses do incêndio, tem gerado discussão na web e atraído a atenção de todo o Brasil. A tragédia, ocorrida em 27 de janeiro de 2013, matou 242 pessoas.

 

Na noite desta quinta (9/12), uma nova polêmica se instaurou na órbita dos interrogatórios. A advogada Tatiana Borsa, que representa o réu Marcelo de Jesus dos Santos no júri, fez uso de uma carta psicografada (veja a íntegra do documento no final deste post) para argumentar em favor de seu cliente durante exposição da defesa. Marcelo dos Santos era vocalista da banda Gurizada Fandangueira e é apontado pela promotoria como responsável por ter acendido o artefato pirotécnico que incendiou a casa noturna.

 

A carta que está gerando comoção nas redes sociais teria sido ditada pelo espírito do jovem Guilherme Pontes Gonçalves, vítima do incêndio. O documento foi publicado no livro “Nossa Nova Caminhada”, encomendado por familiares de vítimas que pediram que quatro médiuns, entre eles Nilton César Stuqui, da cidade de Neves Paulista (SP), intermediassem as psicografias.

 

Nilton Stuqui, da cidade de Neves Paulista, um dos médiuns que psicografaram cartas contidas no livro “Nossa Nova Caminhada”. (Foto: Reprodução/Instagram)

A obra, lançada em novembro de 2014 e assinada por Lidiana Beteza, traz no seu frontispício a inscrição “Psicografias de sete jovens que desencarnaram na Boate Kiss em janeiro de 2013 em Santa Maria, Rio Grande do Sul”. 

 

Além de Stuqui, muito conhecido em toda a região de Rio Preto, o livro contém ainda psicografias de outros médiuns respeitados em todo o Brasil, como Luiz Cláudio Sousa, da Casa Fraterna Francisco de Assis; Carlos A. Baccelli, do Lar Espírita Pedro e Paulo; e Alaor Borges Júnior, do Lar Espírita Irmã Valquíria, todos de Uberaba (MG).

 

O jovem Guilherme ao lado dos pais Mariângela e Ricardo em foto publicado em site que homenageia as vítimas da Boate Kiss.

Ao Portal G1, o professor de processo penal na Escola de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Felipe Oliveira, explica que o júri, dentro da legislação brasileira, é o único espaço em que se depende da “íntima convicção dos jurados” para julgar, ou seja, as decisões não são fundamentadas.

 

“A prova, ou o argumento, trazido pela doutora Tatiana, depende de cada jurado decidir se vai ser valorado ou não. Do que o jurado pensa, do que ele acredita”, afirma, acrescentando que “essa prova – ou argumento – não pode ser manifestamente contrária à prova dos autos”, ou seja, se todas as outras provas sugerem que um crime foi cometido, não pode ser essa a fala que deve orientar o julgamento do jurado.

 

Capa do livro que contem a carta usada pela advogada no julgamento do caso da Boate Kiss.

Abaixo, a íntegra da carta enviada por Guilherme Pontes Gonçalves e psicografada pelo médium Carlos A. Baccelli, em Uberaba (MG), em 26 de julho de 2014.

 

“Querida mamãe Mariângela e papai Ricardo, o senhor seja louvado. Estou aqui em companhia da Stefani e da querida vovó Quirina. Não vamos mais pensar no incêndio que nos vitimou em Santa Maria, no que nos sucedeu, como mais uma demonstração de Misericórdia Divina que dilui a dor que era nossa em 242 partes exatamente iguais… Felizmente não era nossa em 242 partes examente iguais… Felizmente não pudemos e, ainda não podemos chorar como se aquele sofrimento fosse apenas nosso.

 

Acredito, mamãe e papai, que muitas tem sido as manifestações espirituais em torno da tragédia que precisamos tentar minimizar em nossas lembranças.

 

Contudo, de minha parte compreendo que, no último quartel do século passado, mais de duas centenas de espíritos, desejosos de adentrar o Terceiro Milênio da Era Cristã sem maiores comprometimentos cósmicos reuniram-se no Mundo Espiritual e decidiram pelo resgate coletivo das faltas cometidas em séculos anteriores.

 

Claro que referidos compromissos não dizem respeito tão somente a nós outros, visto que, em maioria, aqueles que nos acolhiam na condição de filhos igualmente se encontravam comprometidos perante as Leis Divinas, que nos compelem as quitações de nosso débitos para com a consciência ceitil.

 

Em vidas que se foram, mamãe e papai, não raro, nos transformamos em incendiários e não foram poucos os filhos que, em nossas atitudes de violência, apartamos dos braços carinhosos de seus genitores.

 

Aqui nesta manhã, em nossa companhia orando conosco estão os irmãos Marcelo e Pedro, além de outros, com o nosso irmão Pedro me solicitando dizar aos pais Marcia e Marcelo, que, a semelhança do irmão Marcelo, ele se encontra muito bem, esclarecendo que ainda não escreveu a eles por absoluta falta de oportunidade.

 

Não se preocupem. Em maioria estamos todos bem, porque a escolha efetuada por nós foi uma escolha consciente, porque conforme lhes disse, anelávamos adentrar o Terceiro Milênio que começa com novas e mais amplas perspectivas de avanço espiritual.

 

Realmente ninguém deve ser considerado culpado pelo que nos sucedeu. Que o episódio naquela casa de espetáculos, em Santa Maria, simplesmente nos sirva de advertência para que sejamos mais cuidadosos, sobretudo, no respeito que nos cabe aos nossos semelhantes.

 

Não posso continuar. O meu tempo já se esgotou e preciso ceder lugar e vez a outro comunicante. Com meu amor a vocês dois, mamãe e papai, sou o filho que não os esquece e que, em nome de dezenas de outros filhos desencarnados na mesma tragédia, agradecem tudo que vocês dois vem fazendo para confortar aos seus pais.

 

Com meu carinho e da Stefani, que já escreveu aos seus familiares, sou o filho sempre agradecido.” 

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    Paulo Becknetter, o Beck, é jornalista. Nos últimos anos, desempenhou a função de colunista de atualidades nos jornais "BOM DIA Rio Preto" (2007 a 2013) e "Diário da Região" (2013/14). Agora, oficialmente na web, o Blog do Beck afina sua vocação para a comunicação diária, alinhando informação digital e bom humor na medida ideal. Nas horas de faxina, tratar dos mesmos assuntos com Berenice Du Lar, a interina e eterna Garota da Laje de Ipanema. Aceita, brazeeel!

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