O poeta Osvaldo Queiroz lança seu segundo livro de poesia nesta sexta (17), em Rio Preto, na Galeria Beto Carrazzone. “Acaso” reúne 31 poemas selecionados entre dezenas escritos nos últimos 15 anos nas andanças do autor pelo mundo. A maioria é datada e traz o local de inspiração, que vai de Aparecida do Tabuado (MS), onde nasceu, passa por Rio Preto e São Paulo e termina na cidade do Porto, em Portugal.
Aliás, esses quatro lugares são as atuais residências do autor, espécie de cidadão do mundo, irrequieto no morar e no escrever. “Acaso” é um desassossego permanente, interno e externo, a partir da visão sempre crítica e rebelde que tem do mundo e das pessoas.
As ilustrações são assinadas pelo artista plástico Beto Carrazzone, cuja galeria sedia a noite de autógrafos. A apresentação é da jornalista paulistana Mazé Manzano. A edição fica por conta do jornalista Edmilson Zanetti, que faz sua estreia como editor no mercado literário com a Editora Ponto Z. “Estão previstos lançamentos de ‘Acaso’, também, no final do ano, em Campo Grande (MS) e na Casa de Portugal em São Paulo”, informa Zanetti.
“Acaso” é o segundo livro de poesia de Osvaldo Queiroz. O primeiro, “Verdadeiro”, de 2005, tem edição esgotada. Abaixo, a apresentação do autor e da obra pelo editor.
“O leitor pode ter do autor a impressão de um ser frágil, mergulhado num universo de fantasias e sonhos de vidro. Pegadinha. Osvaldo Queiroz é um gigante de 1,70 metro, 57 quilos. Desinquieto. Frenético. Anárquico por excelência. Devorador de filósofos e pensadores. Felino. Ferino. Feroz. Um ente ‘’quase de esquerda’’, em que pese sua origem oligárquica mato-grossense.
Avesso à mediocridade humana, não tolera a mesmice. É adepto e praticante da rebeldia civilizada. Por isso, convidou o artista plástico Beto Carrazzone para dar cor e sabor a seus versos.
Osvaldo não sossega. Sua sina batismal é viajar. Descobrir, desfrutar. Aprender. Todos os dias. Voar como pássaro. Sobrevoar mares e oceanos. Desbravar estradas, povos, culturas, com uma volúpia que faz dele um jovem de quase 70 anos.
O sossego só vem em intervalos de inspiração poética. Encontra em rabiscos que faz em centímetros livres de jornais, guardanapos e até em papel higiênico o meio de se desintoxicar do que vê, lê, sente, pressente, respira, inspira, no dia a dia de suas andanças pelo mundo, sempre em busca do novo, todo dia de novo.
Sua rebeldia não é só com humanos e políticos. Refuta também o academicismo das letras, a burocracia dos gêneros literários, a formalidade das rimas, do versejar tradicional. Brigou com Machado de Assis, em cuja fonte quase se afogou de tanta leitura no colégio interno, ainda criança. Deu as costas para Celso Cunha, ao expulsar a pontuação virgulada de seus versos.
Em vez de, prefere o som musical das palavras, quase tribal às vezes. Nessa brincadeira de sustenidos e bemóis, disfarça rica ironia, mesmo quando aborda temas ácidos.
Paradoxal, crítico de si mesmo, não gosta de poesia. Nem da dos outros nem da dele. Para se contrariar, e embaraçar os seus de perto, decidiu, pela segunda vez, desengavetar e publicar pouco mais de 3 dúzias de poemas que acumula desde a pré-adolescência. Os mais recentes. Um “quase aborto”, nas palavras do próprio.
Acaso é uma seleção de indignação, desejos, de leituras de comportamento humano, de quase congestão de tanta informação, escrita de uma forma sem forma, sem métricas ou redondilhas, mas — talvez acidentalmente— rica em rimas aliterantes e versos brancos.
Sempre na primeira pessoa, sua poesia dá ao leitor mais dolorido o direito de se enxergar nela, mesmo até de se apropriar dela, como sendo sua.
Esconde-se nesses fetos poéticos uma comunicação solta e descomprometida com verdades alheias, inspirada no viés pessimista de Schopenhauer, um dos seus desde há muito.
Acaso é um desabafo de alguém que, em busca da liberdade e do frenesi para sempre, fugiu da fazenda aos 12 anos, auto-exilou-se moço para se safar dos anos de chumbo dos militares de plantão, respirou ares cosmopolitas europeus, mas não menos mundanos, decorou o mapa do mundo como se fossem os cômodos de casa de menino no meio da peonada, até perder o RG da fala e se tornar cidadão do mundo.
Mas nunca abandonou a memória de Prudêncio, neto de escravo de seu bisavô que embalou sua infância ao som do canto de um carro de boi e lhe ensinou tudo sobre roça e roçado, cobras e cabras, frutas, galhos, raízes e folhas, touros e toras da mata, sobre o doce e o amargo da vida, paladares que o autor prova todo dia, mas não lhe matam a fome de viver”.
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