O anúncio de que doará R$ 100 mil para cada família dos mortos, divulgado pela Vale nesta segunda-feira (28), rompeu de uma vez por todas com a barragem da paciência de quem acompanha a tragédia de Brumadinho (MG). Padre Fábio de Melo, por exemplo, foi uma das primeiras figuras públicas a se manifestar em relação à ‘afronta’ da mineradora.
“Doar? Um bandido entra na sua casa, rouba tudo o que você tem, mata pessoas da sua família, destrói o seu espaço emocional, memórias, depois ele volta e diz que vai deixar um dinheirinho para você recomeçar a vida. Que bandido caridoso!”, postou o padre em sua conta no Twitter.
Aplaudido virtualmente pelos seus seguidores, Padre Fábio de Melo continuou: “Alguns poderosos tendem a se interpretar como se interpretavam no passado os senhores de engenho. Carregam a pretensão de que são de uma casta superior, e consideram as pessoas que trabalham para gerar suas riquezas como escravas. Distribuem migalhas e se acham caridosos”.
[Mais aplausos].
E quando a gente achava que o ‘esporro’ já estava ótimo, eis que ‘Fabinho’ continuou: “As oligarquias políticas também não fogem à regra. Pais corruptos que se mantiveram a vida inteira no poder, fazem de seus filhos sucessores. Sempre a partir de seus currais eleitorais. Eles também se acham e agem como senhores de engenho. E é lamentável ver que tem dado certo. Durante muito tempo essas oligarquias foram cortejadas em seus estados. Acobertadas das imundícies que praticavam nos bastidores do poder, só saiam no meio do povo em tempo de eleições. São monarcas sob o disfarce republicano. Ainda se sentem reis que gravitam acima das leis e das regras”, terminou o padre. Ufa!
A proposta da Vale, nessa altura da lama moral que cobre a companhia, é tentar amenizar os impactos da tragédia e diminuir o barro das críticas que inunda todos os departamentos humanos da mineradora. “Não tem nada a ver com indenização”, adiantou Luciano Siani, diretor-executivo de finanças e relação com investidores da companhia, numa clara tentativa de acalmar os ânimos.
De acordo com o mesmo, a Vale também contratará profissionais do Hospital Albert Einstein para o atendimento psicológico dos atingidos pela tragédia. Outra medida anunciada pelo executivo foi a implementação de uma cortina de contenção no rio Paraopeba – completamente devastado pela lama que vazou da barragem, garantindo, dessa maneira, a captação de água no município de Pará de Minas (MG). A mineradora informou ainda que vai manter o pagamento de impostos para Brumadinho.
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